domingo, 3 de março de 2013

CECCO Vila Guilherme, um programa para todos!


CECCO Vila Guilherme, um programa para todos!

Revista COMUNIQ- Coluna Entrevista / Edição 63 
Autor: Cinthia Prado | Foto; Danilo Brito/ agência Comuni Q
 

Ana Célia Marques conta detalhes de como surgiu o Centro de Convivência da Vila Guilherme e qual o papel que esse projeto tem na vida dos frequentadores. Oficinas gratuitas e recreativas transformam vidas e ainda ajudam o lado emocional dos participantes através do convívio em grupo.





Q: Quando foi criado o CECCO? Por quem e por quê?
Ana: AO Centro de Convivência e Cooperativa nasceu através da discussão sobre a saúde mental. O Centro é aberto para todos e foi criado no reflexo da luta antimanicomial, quando veio a política de tirar os pacientes dos manicômios; mais ou menos na época da Erundina. Nós somos o 21º CECCO de São Paulo e ainda sentimos necessidade de expandir esse projeto para demais áreas.

Q: Quando veio para o Parque Vila Guilherme - Trote?   
Ana: Ele passou a existir oficialmente em 2008, quando saiu no Diário Oficial. Antes desse período nós já ocupávamos esse espaço do parque, desde 2006. Nessa época eu dava aulas de Tai Chi Pai Lin, dança circular e grupo de movimento na Biblioteca Álvares de Azevedo, na Vila Maria Alta, mas por uma questão política deles foi determinado o fechamento do espaço para reforma e a Secretaria da Cultura não permitiu a reabertura das aulas. Uma amiga minha dava aula de yoga no mesmo local e ficamos sem espaço. Eu trabalhava em uma unidade de saúde e não tinha lugar para encaminhar o paciente que precisava se exercitar, como um idoso, adolescente deslocado ou sem socialização, a não ser para as igrejas. Daí, fomos procurar pelo Rodrigo, na época administrador do Parque Vila Guilherme - Trote, pois sabíamos que o espaço estava reformado e inativo. A partir daquele momento o local foi cedido e deu tudo certo.
Nessa região da Zona Norte sempre houve muita necessidade, pois não existia nenhum tipo de iniciativa. Isso nos motivou a abrir o Centro de Convivência. Começou comigo, uma amiga da yoga e a Cecília, que é psicóloga. Depois a coisa foi criando corpo.

Q: As atividades são voltadas para qual público?
Ana: O Centro de Convivência é aberto para qualquer público. Nas férias é que se concentra um número maior de crianças, fora dessa época é difícil por conta das aulas. Então, nesse período temos uma programação bem legal voltada para o público infantil. Adolescentes nós ainda não conseguimos trazer.

Q: A falta do público adolescente é por conta da divulgação escassa?
Ana: Eu acho que é mais pelo mito de que as atividades são para idosos. Muitos acham isso, mas não é verdade. Ele é voltado para todas as idades, mas como os idosos têm mais tempo livre eles acabam frequentando mais. Mas é relativo, na yoga, por exemplo, temos muitas pessoas jovens. 

Q: Qual é o objetivo do CECCO?
Ana: A palavra chave do CECCO é inclusão. Essa cabe em todas as faixas etárias, todas as condições psíquicas e físicas. Nós temos um caso de uma senhora que vem pelo “Atende” e possui o encaixe da coxa fora do lugar, mas mesmo assim ela frequenta assiduamente. Tem outra senhora que às vezes vem se arrastando, mas vem. Ela diz que se sente bem aqui, pois pode desabafar e nós ficamos muito felizes com isso. No final da terapia nós falamos uma palavra para descrever o significado daquele encontro e a minha palavra é sempre alegria ou satisfação, porque esse espaço é muito importante.

Q: Todos os envolvidos no CECCO são voluntários? 
Ana: Nós temos um voluntário que vem só para fazer suas atividades e presta serviço aqui e no CECCO Mooca. Seu trabalho artesanal é maravilhoso! Mas têm pessoas que vêm, ensinam, mas são usuários, frequentam o parque e contribuem com seus conhecimentos, exemplo disso é uma das senhoras que faz tricô e fuxico na oficina de artesanato.

Q: Vocês fazem eventos?
Ana: Durante o ano temos três eventos grandes; o carnaval, festa junina e festa da primavera. O carnaval é mais fraco, pois muitas pessoas viajam nesse período. Festa junina nós já tivemos um público de 300 pessoas e foi um sucesso. Também fazemos almoço e juntamos o pessoal de todas as oficinas.

Q: As orientadoras são treinadas para passar a atividade ao público?
Ana: Pessoas do próprio grupo que sabem fazer a atividade da forma correta podem substituir o professor em uma ocasião que haja necessidade, como falta do profissional responsável ou férias. Dependendo da aula não há pessoas aptas para ocupar o lugar do professor, como na yoga. Este ano uma fonoaudióloga vai fazer um curso de yoga dado pela prefeitura para auxiliar em momentos de ausência da professora.

Q: Como são definidas as aulas? Qual a mais procurada?
Ana: Nós temos um questionário que fornecemos assim que a pessoa entra, onde perguntamos o que ela gostaria que tivesse aqui e qual o horário de disponibilidade. Essa é uma preocupação nossa, mas está mais dentro da formação de cada profissional. Eu, por exemplo, tenho formação de Tai Chi Pai Lin desde o ano 2000 e comecei a dar aulas e nunca mais parei. A dança circular eu fiz em 2005 e já trouxe para cá. Quando as meninas pensaram em implantar a oficina da memória, elas foram fazer curso fora. Reuniões entre os CECCOS também foram úteis para saber o que há implantado em outros locais e qual é o grupo preferido dos usuários. Existe uma variação enorme, como os parques que trabalham com comida, dança flamenca, dança cigana, entre outros. Aqui todo mundo trabalha com grupos e os psicólogos não fazem aquela parte clínica e, por isso, temos a terapia comunitária, que é um espaço para compartilhar as coisas boas e ruins. A oficina mais procurada é a de yoga, porque o povo realmente o conhece de alguma maneira. As revistas falam mais e também teve a novela “Caminho das índias” que deu um Bloom legal. O artesanato tem um público grande, as mesas ficam lotadas, quase sem espaço nenhum.
De terça-feira à tarde tem um artesanato com uma característica diferente, com um pessoal mais comprometido, portadores de doença mental e física, mas a grande maioria nós chamamos de USME (Usuário de Saúde Mental) e por algum motivo, que desconhecemos, eles se concentraram na parte da tarde. Nesse período temos uma senhora que fica como orientadora, uma terapeuta passional e duas assistentes sociais que acompanham a atividade.

Q: Quem se interessar em participar deve se inscrever onde?  
Ana: Como existem muitas pessoas que se inscrevem e não aparecem nas aulas, nós mudamos o método. Agora pedimos que os interessados frequentem e depois se a pessoa acha que vai continuar, ai nós fazemos a ficha de inscrição. Isso facilita o nosso controle e garante vaga para os que estão realmente interessados em participar.

Q: Gostaria de acrescentar algo?
Ana: Faço um convite para as pessoas conhecerem as atividades que temos no parque. Antigamente tínhamos um banner chamando o pessoal na entrada do parque, mas fomos proibidos pela administração de colocá-lo. Por isso ainda há pessoas que não sabem que esse trabalho existe. As atividades são totalmente gratuitas e acontece de segunda a sexta-feira no Parque Vila Guilherme - Trote.

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